Piercing ético.
Um pensamento muito comum até poucos anos atrás, e que ainda pode ser comum para um enorme grupo de pessoas, mas que aos poucos estamos remodelando (profissionais piercer’s, fabricantes de joalheria, empresas de produtos voltados a biossegurança) é que o piercing vinha como uma lembrancinha após ir a um estúdio para se fazer uma tatuagem. “Já que estava lá, fui no embalo e acabei fazendo um brinco”. Qual piercer ou pessoa nesse mundo nunca ouviu essa frase? É uma fala bem comum, principalmente em casos de clientes que me procuram com problemas em perfurações realizadas no dia do “embalo da tattoo”. Essa frase é muito preocupante para um profissional da área por dois motivos. Primeiro: piercing não é brinco, brinco não se usa em lugar de piercing! Segundo: acabar fazendo algo quer dizer que não estava totalmente ou minimamente planejado, e que provavelmente não aconteceu nenhuma pesquisa sobre tudo que envolve esse tipo de procedimento complexo, que é a perfuração corporal. Uso este exemplo pois na maioria destes casos o estado da perfuração quando me é mostrado indica um procedimento mal feito, com materiais de baixa qualidade/incompatíveis e instruções de cuidados completamente errôneas. Acredito que esse é um caso totalmente ligado a visão de ética no mundo do piercing, se manifestando de três sentidos: do profissional que realizou o trabalho, do cliente e do profissional que foi procurado para tentar ajudar. Enganar a si mesmo é a pior das mentiras, e dizer que nunca erramos é pior ainda. Já houve uma época em que provavelmente a situação era invertida, ou seja eu era a pessoa que fez as coisas sem estudo e o cliente foi atrás de outro profissional para tentar resolver. A gente aprende errando, e acredito que hoje tenho muito mais conhecimento do que há quase 8 anos atrás quando comecei, e ainda tenho muito o que aprender, aprimorar, adaptar! A constante busca pela perfeição… é também uma saga de body-piercer! Nestes casos cabe a quem vai ajudar indicar os possíveis erros no processo, nos cuidados ou na escolha do material/modelo de joalheria, além é claro, de indicar o que fazer para solucionar o problema (que poderá variar bastante dependendo da situação). Cabe ao cliente se conscientizar de que um piercing é algo sério e tão bem planejado para dar certo quanto uma tatuagem (aliás é muito mais fácil de você ter um problema de saúde com uma perfuração do que com uma tatuagem caso esse planejamento e cuidado não seja feito pelo piercer e pelo cliente). E cabe a quem realizou dar suporte ao cliente (caso esse o procure) e entender o porque não deu certo, quais hábitos mudar e o que estudar com mais afinco.
A ética na nossa profissão engloba muitos fatores, e como dito pelo Max no seu artigo postado aqui no blog, números de seguidores e curtidas em redes sociais não é definitivamente o que faz um indivíduo ser profissional empenhado em oferecer qualidade em seus serviços de fato, que para mim é a base da definição de ética. Oferecer um ambiente controlado e seguro, com estrutura planejada para questões de biossegurança não é tão simples e requer muito esforço e planejamento da gente. Deve ser um dos primeiros itens a ser analisado por quem busca um adorno corporal e por quem quer ser visto como profissional na área. Junto a isso vem a questão do estudo de técnicas, quais joalherias são biocompatíveis e quais são ideais para usar para perfurar, quais são interessantes somente para usar quando já estiver cicatrizado, limpeza, desinfecção de artigos críticos, produtos eficientes para garantir a biossegurança não só de pisos e superfícies mas também dos instrumentais e joias, sala de esterilização devidamente equipada com maquinários específicos, como funcionam esses equipamentos, entender a sequência de etapas para lavagem e esterilização de pinças entre outros acessórios… tem muito mais coisas que poderia citar aqui mas já deu pra entender né? Ser um piercer PROFISSIONAL dá um trabalhão! Gostaria de ressaltar a parte não menos importante do que todas as anteriormente citadas: o atendimento. Ah, o atendimento, tão desestimado por alguns… que não compreendem que é super importante tratar a todos como iguais, ter empatia, paciência e empenho em explicar minuciosamente para o cliente que lhe procura para um trabalho todo o passo a passo do que envolve um novo piercing! Caso não role essa compreensão, como é possível garantir que o cliente compreenda a parte dele nesse acordo de “mão dupla”? Um atendimento desleixado pode comprometer um piercing bem feito! Atendimento é ética… pois é o que confirma a quem lhe procura de que você entende do que faz, estuda sobre aquilo constantemente e quer que seja uma boa experiência de fato, e não só dinheiro no bolso. Por vezes me nego a realizar perfurações pois percebo que a pessoa ainda não está totalmente preparada para aquilo, ou que algum fator em específico no cotidiano não irá colaborar para que a experiência com o novo adorno seja algo prazeroso e seguro. Quando compreendemos que isso não é perder e sim ganhar … temos consciência de uma gota do oceano que é a ética em nossa profissão!
Para concluir, gostaria de deixar uma reflexão tanto para pessoas que procuram por um serviço de body-piercing quanto para profissionais da área: por que para se fazer uma tatuagem (na maioria dos casos) rola toda uma preparação, é um dia importante na vida, exige um bom investimento e é algo levado muito a sério pelo cliente, e para se fazer um piercing (em alguns casos) é só pela coincidência de ter uma tatuagem marcada com alguém do estúdio? Será uma consequência gerada pela banalização do piercing baratinho e que se não der certo é só tirar ou uma falha nossa em deixar a desejar em diversas questões que envolvem a ética no exercer da nossa profissão? Ou será uma junção dessas ou até de mais coisas? Deixe sua opinião, comentário, elogio ou crítica nos comentários! Estou sempre aberto a conversas sobre qualquer tipo de assunto via direct lá na minha página do instagram @brad_piercing ✌?