Vou falar de um assunto que gera muitas dúvidas. Para lavar instrumentais eu devo usar detergente enzimático? Sempre escutei as pessoas que trabalham na área da saúde dizendo:’’ Mas é obrigatório o uso do detergente enzimático, a ANVISA obriga”.
Antes de aprofundarmos no assunto, precisamos entender o que a ANVISA diz sobre o reprocessamento de materiais. A RDC 15/2012, propõe que limpeza é a remoção de sujidades orgânicas ou inorgânicas e também é o processo que reduz a carga microbiana nos produtos relacionados a saúde, o processo é feito com a utilização de água que é o principal agente de limpeza combinado com os detergentes, onde fica bem claro que não há uma indicação específica para o uso de enzimáticos.
Mas qual a função detergente para ser utilizado no reprocessamento de materiais e equipamentos? Quimicamente um detergente é um produto constituído de tensoativos que podem ser aniônicos, catiônicos ou não iônicos. Esse tensoativos tem a finalidade de quebrar a tensão superficial da água, fazendo com que a sujeira seja arrastada facilmente da superfície. Então o detergente é o agente principal no processo de limpeza?
Vamos lá, o detergente faz com que a sujeira adere a água e possui característica bem especial: eles são formados por 2 polos distintos, um se une a água e outro que tem uma afinidade com a gordura, sua função principal é fazer a junção entre água e sujeira, a sujeira e a água possuem cargas diferentes, e o detergente quebra a tensão superficial da água, fazendo com que ela se mescle a sujeira e o arraste é feito pela água. A água é o agente principal de limpeza, em um processo de lavagem e a detergente quebra a gordura em partes microscópicas, e estas micropartículas de gorduras que dissolvem com água, sendo arrastadas da superfície facilmente. Esse é o princípio da limpeza utilizando um detergente.
Segundo a publicação da Pfiedler Enterprises, 2014 (The Role of detergents and disinfectants in instrument cleaning and reprocessing), os detergentes indicados para o reprocessamento de material seriam:
- Detergentes enzimáticos;
- Um detergente de pH neutro;
- Um detergente alcalino.
Temos uma cultura no Brasil que somente o detergente enzimático seria indicado para a limpeza desses materiais, já os detergentes alcalinos não são muito utilizados aqui em nosso país, mas são muito populares e utilizados em hospitais na Europa e Estados Unidos. Quando desenvolvi o DETERGENTE SMART ADVANCED MED era para justamente trazer um novo conceito de limpeza para os materiais sujeitos a reprocessamento e tirar esse mito que somente a enzima pode limpar um material contaminado. Podemos citar também o 2017 Guidelines for Perioperative Practice, no processo de fricção com detergente neutro e água remove resíduos orgânicos; A limpeza remove a matéria orgânica, proteínas e desestabiliza os microrganismos que posteriormente são exterminados no processo de esterilização.
O DETERGENTE SMART ADVANCED MED atende a publicação de AORN 2013, que o detergente utilizado para o reprocessamento de matérias, deve ser não abrasivo, pH neutro, fácil enxague e biodegradável.
Na RDC 15/12 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0015_15_03_2012.html), se você ler com atenção não há obrigatoriedades de uso de detergentes enzimáticos para o reprocessamento de materiais. Na seção 3 no artigo 4 parágrafo X diz: detergentes: produto destinado a limpeza de artigos e superfícies por meio da diminuição da tensão superficial, composto por grupo de substâncias sintéticas, orgânicas, líquidas ou pós solúveis em água que contêm agentes umectantes e emulsificantes que suspendem a sujidade e evitam a formação de compostos insolúveis ou espuma no instrumento ou na superfície; neste caso fica evidente que não há uma indicação específica para que tipo de detergente devemos utilizar. Sobre o reprocessamento de materiais foi indicado que a limpeza manual deve ser feita por forma manual ( fricção mecânica) ou automatizada ( ultrassônica ou termo ).
Para estúdios de tatuagem, micropigmentação e bodypiercer não é necessário o uso da ultrassônica, devido a sujidade ser de fácil remoção na forma mecânica ( fricção). A RDC 15 deixa bem claro que o uso da ultrassônica deve ser obrigatória para produtos para saúde que tenham lúmen interno inferior a 5mm e precisa ser as maquinas que possuam conector para canulados com a tecnologia de fluxo intermitente de agua ( jatos de agua ligados ao lúmen). Vou postar mais adianta explicando sobre o uso ou não de equipamentos para o processo de reprocessamento de materiais, e eu acredito que isso seja uma novidade dentro do segmento de tatuagem, estética ou piercing.
Quando eu desenvolvo um produto sempre busco referencias técnicas e normativas, e sempre penso em um processo eficaz porém simples de ser executado. E hoje temos muitas tecnologias a nosso favor para os processos de limpeza. A idéia em desenvolver o DETERGENTE SMART ADVANCED MED foi justamente para trazer novas possibilidades de limpeza e trazer um diferencial, porque a enzimas não devolvem o brilho do material.
Trabalhei por anos em indústrias de produtos de limpeza, higiene e desinfecção e hoje é um sonho realizado poder trazer informação de uma forma acessível, para profissionais em geral da área de saúde que são desassistidos pela indústria hospitalar. Vou trazer sempre o que há de mais atual, de fácil compreensão. Você pode deixar seu comentário ou sugestão.
2017 Guidelines for Perioperative Practice
Last revised: September 2014. Copyright © 2017 AORN, Inc. All rights reserved.
Decontamination and reprocessing of medical devices for health-care facilities- World Health Organization and Pan American Health Organization, 2016 .
RESOLUÇÃO – RDC Nº 15, DE 15 DE MARÇO DE 2012
GUIDELINE FOR CLEANING AND CARE OF SURGICAL INSTRUMENTS – 2017 Guidelines for Perioperative Practice
Graziano KU, Silva A, Psaltikidis ME. Enfermagem em Centro de Material e Esterilização. São Paulo, Manole, 2011.